segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Três de outubro daquele dia

Um “boom” estourou na tarde de três de outubro. A notícia, que foi passada de pessoa para pessoa, se espalhou rapidamente e toda aquela região ficou sabendo do acontecimento. Parecia que um grupo de jovens manifestantes de classe média entraram em uma zona eleitoral com esferas maciças de ferro na mão, pedras e grossos balaústres de madeira e depredaram urnas, rasgaram papéis e toda essa “baderna” resultou no ferimento de oito mesários que trabalhavam no dia da eleição. Houve muito tumulto e muita correria, porque os cidadãos que ainda não tinham votado corriam para as saídas mais próximas, derrubando muitos idosos no chão, empurrando gestantes, ferindo outras pessoas que esperavam sua vez para votar. Enquanto ouviam-se carros cantando os pneus ao redor do prédio e ambulâncias entrando no pátio, muitos policiais já se encontravam dentro do mesmo, com cacetetes e bombas de gás lacrimogêneo, e os enfermeiros iam até os feridos, mas qualquer tentativa de contenção parecia impossível. Eles estavam em grande quantidade e possuíam grande agilidade, eram determinados, destemidos e estavam pouco se importando com os homens da polícia. Luzes brancas começaram a surgir e, seguidas de “snaps”, pouco a pouco os repórteres enchiam o local, que agora parecia um caldeirão fervendo, borbulhando por todos os lados. Houve muita gritaria e muita resistência por parte dos manifestantes e dos policiais, mas pouco a pouco eles foram pegos e levados da maneira brutal aos carros da polícia. Os repórteres grudaram nos vidros dos carros de maneira que parecia com que eles passariam para o lado de dentro por osmose ou algo do tipo. Aos poucos e em alta velocidade, os manifestantes foram levados para a delegacia e por lá todas as medidas judiciais cabíveis a eles foram tomadas. Toda aquela população ferida foi encaminhada à hospitais próximos dali e aqueles que possuíam leves ferimentos foram atendidos nas ambulâncias ali mesmo. No dia seguinte, muros pichados, muito entulho nas valetas, cartazes espalhados por todos os lugares com mensagens como “Chega de espetáculo circense!” ou “Vamos crescer, evoluir!” estavam espalhados pela cidade. Enquanto os garis varriam as ruas, o pessoal que trabalhava para os jornais locais aceleravam suas motos e jogavam a uma certa distância jornais em todas as casas, com a reportagem completa daquele “circo de horrores” que houve no dia anterior. Os cidadãos liam e suas expressões não eram absurdas, pelo menos em meu rosto não. Aqueles manifestantes mereciam apoio, pois o horário eleitoral mais parecia um programa humorístico do que uma prévia de cada candidato para cuidar do nosso país, nosso bebê indefeso que não merecia tanta desgraça. Eu, Dirceu, apoio todo esse protesto e fico indignado com tamanho desprezo por nossa nação. “Que isso sirva para que nossos direitos possam valer alguma coisa.” Acendi meu cigarro e sai com o jornal dobrado debaixo do braço, sentindo que aquele três de outubro chamou a atenção dos palhaços que estão tomando conta deste país.

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