terça-feira, 12 de outubro de 2010

Gangue da purpurina

Psicose Nova-Iorquina - Capítulo I

Era manhã de uma terça-feira quando eu escutei a merda do despertador tocar. Só não era pior a manhã, porque o colégio era perto de casa e consequentemente eu não acordava muito cedo. Os ponteiros marcavam sete e quinze da manhã quando decidi me levantar da cama e tomar um banho para acabar com aquela preguiça. Sai do banho e peguei a primeira roupa que vi na gaveta. Era um colégio, então eu tinha que colocar algo mais comportado. Peguei uma blusinha em tom pastel, minha calça jeans e coloquei um All Star Skid verde claro que eu tinha. Já disse que não me importava em combinar minhas roupas, apenas coloquei esta porque estava confortável e eu me sentia bem assim. Azar de quem não gostasse. Olhei no relógio e vi que perdi algum tempo trocando de roupa, então peguei uma maçã, minha bolsa, coloquei meus fones no ouvido e logo fui para o colégio ao som de Crossroads, de John Mayer. Chegando lá parecia que o número de estudantes tinha duplicado de ontem para hoje. Como de costume, as meninas me olhavam e riam da forma como eu me vestia, cochichando sem parar na rodinha delas. Pouco ligava para isso, entrei apenas no prédio e fui direto ao meu armário pegar uns livros que havia deixado lá. O sinal tocou e aquela multidão entrou. Fui direto para a sala e logo as garotas vieram tentar me encher:
- Onde estão seus amiguinhos? Não têm? Pecado, deve ser bem difícil isso não é?
E saíram de perto rindo.
Nem liguei. Abri a bolsa, tirei o caderno e joguei o Ipod dentro. Escutei um “bom dia, cada um no seu lugar” e quando olhei fiz aquela cara de sofrimento. Era o professor de física. Não prestava muito atenção, porque realmente não gostava de física, mas isso não quer dizer que ficava de recuperação. Não fiz exercício nenhum, mas fiz algumas anotações das teorias que ele tinha passado até o intervalo. Quando tocou o sinal, fui até a cantina e entrei na fila para pegar um sanduíche. As garotas estavam com suas bandejas e eu acho que elas perceberam minha presença ali. A “líder” da “gangue da purpurina rosa” veio até eu e “esbarrou” em mim.
- Ai, desculpa, acho que derrubei suco na sua roupa.
Eu olhei para ela e vi que ela ria. Dei uma risada mais irônica ainda, peguei meu sanduíche e o copo de suco de uma garota da fila, derrubei nela propositalmente e disse:
- Ops, acho que escorregou.
Ouvi ela retrucar alguma coisa, mas nem liguei. Subi rapidamente as escadas, deixei meu sanduíche na sala e fui ao banheiro. Peguei uns papéis, molhei e passei na minha blusa. Não adiantou muito. Droga. Fui para a sala, assisti à aula de biologia e história. Antes de acabar a aula de história, mandei uma mensagem para o Átila: “Tilanga, leva meu almoço no serviço hoje, não vai dar tempo de almoçar. Vou ter que passar em casa antes para trocar de roupa. Depois de explico e te pago. Beijo”
O Tilanga (como eu chamava carinhosamente o Átila) era meu amigo. Toda terça e sexta-feira ele ia ao restaurante entregar correspondência.
- Seu almoço. O que houve?
- Adivinha?
- A gangue da purpurina lançou o raio rosa-choque mortal sobre você?
- Cinderela derrubou suquinho em mim. Nem esquentei a cabeça. Foi só sujar o vestido de marca que ela já chorou.
- Mel, essas meninas vão tentar fazer você perder a cabeça até morrer.
- E eu com isso? O que você tem nesse embrulho aí? Presente para mim?
Átila levantou o embrulho e guardou no mesmo lugar onde estava meu almoço.
- Presentinho para Alana. É um pingente em formato de coroa, acha que ela vai gostar?
- Claro, do que tua namorada não gosta? Agora vai trabalhar que eu também tenho mais o que fazer.
Dizendo isso, coloquei uma nota e algumas moedas em cima do balcão. Ele pegou e saiu. Durante a tarde, o restaurante não teve muito movimento, então o dia foi tranquilo. Enquanto não estava servindo, sentava atrás do balcão e lia as anotações que fiz pela manhã no colégio. Sai do restaurante e fui para casa, tomei um banho e comecei a ler o livro que a professora de literatura havia pedido. Estava exausta, não aguentei e dormi.

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