segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Divã

Psicose Nova-Iorquina - Capítulo VIII

O tempo passou e muito mudou em minha vida. Rita conseguiu um tratamento para largar o vício da bebida e parou de fumar temendo que seu problema se agravasse, mas nada disso mudou a opinião de Melina. As duas já não se viam frequentemente, pois a garota agora morava com sua tia, naquela mesma casa onde morou antes, ao lado da casa de Átila. Sua mãe ainda telefonava, mas as conversas eram diretas, sem demora. Átila largou de Alana e estava mais safadinho do que nunca. Ele, que já tinha um corpo muito bonito, ficava cada vez mais interessante com seu jeito audacioso.
- Átila, vai trocar de roupa logo inferno!
- Ah Melina, vai dizer que não estou sexy com essa toalha enrolada nesse corpinho gostoso?! – Disse passando a mão em seu abdômen definido.
- Eu disse para ir logo e não me teste! – Lutando contra seus pensamentos, ordenou ao amigo.
- Vem cá Mel, vem cá! – Rindo foi até a garota.
- Imbecil, se você tentar me agarrar vou chutar suas bolas. Sai daqui!
Tilanga virou as costas e, quando entrava em seu quarto, parou e mais uma vez provocou Melina.
- Agora eu vou tirar essa toalha viu, se quiser vir aqui pegar, fique a vontade gatinha.
Ela nem virou para vê-lo na porta, apenas continuou folheando a revista, mas os músculos de sua face contraíram em um sorriso malicioso.
O trabalho ia bem, já que estava na loja de CD’s e não mais no restaurante. Ela se sentia em casa escutando as músicas que gostava naquele ambiente. Com o dinheiro que ganhava, ajudava a pagar as contas de casa e sempre deixava uma quantia para a balada do fim de semana. No colégio, a incansável luta de Louise para destruí-la não fazia tanto efeito quanto antes e Melina não precisou mais beijar nenhum garoto como forma de vingança barata.
- Sabe, eu sinto como se as vida estivesse conspirando a meu favor a partir de agora. Minha mãe tomou um jeito na vida, embora eu não admita isso claramente; estou feliz com meu trabalho e posso afirmar com toda certeza e honestidade que trabalho porque gosto e não porque necessito do dinheiro. Aquela menina tosca da escola já teve o que merecia, então nem me preocupo com ela mais, mas se precisar estou sempre disposta a pisar na cabeça dela para baixo da terra.
- Acha que isso compensa?
- Talvez. Acho que se as pessoas me escutassem mais, não seria necessário agir como ajo, tratá-los como trato, enfim, ser tão agressiva e grossa quanto sou. Uma prova disso é Átila que, por mais teimoso que seja, só brinca comigo e não prossegue entende?
- Sim.
- Eu queria muito que tudo fosse diferente desde o princípio. Confesso que fiquei bem chateada com boa parte desses acontecimentos, mas consegui lidar, ignorando. Foi bem difícil, só tive algumas explosões, mas fui até o fim.
A pessoa com quem Melina conversava escutava tudo aquilo e parecia anotar em formato de tópicos cada frase dita por ela. Ao afirmar algo, balançava a cabeça concordando ou apenas expressava dúvida em sua face pouco expressiva.
- Melina, eu como psicólogo posso afirmar que seu comportamento é típico de adolescentes que estejam nesta fase ou que estão transitando para a maioridade e quanto aos problemas de sua casa, sua família, enfim, eles não ocorrem somente com você. Já tive pacientes com problemas três, quatro vezes mais graves que o seu. – Colocou a mão na boca e tossiu. – Desculpe. Eu não estou aqui para dizer o que você deve fazer, apenas posso questioná-la, instruí-la para que possa se libertar dessa psicose, desse transtorno como acha que é. Quanto à sua mãe, dê um tempo, deixe ela estar firme e forte com o tratamento e quando isso acontecer dê apoio. Ela irá pensar em tudo que fez, acredite; quanto às garotas do colégio, nem ligue. Na minha época de colégio também era zoado por causa de uma verruga na testa. – Melina inclinou seu corpo para frente discretamente e olhou a testa do homem. – Ainda bem que fiz extração a laser e deixei de ter cabelo comprido, acabando assim com o falatório a respeito do meu estilo. (Será que ele era um hippie ou algo do tipo? Como será que ele se vestia hein? Cruzes, não gosto nem de pensar). Quanto a Átila não tenho nada que dizer, pois estão bem e fico feliz por saber que se sente perfeitamente bem na loja de CD’s, isso é uma ótima atividade para você, ajudará a se acalmar, a não ficar tão estressada com tudo isso. Vamos à mesa, por favor.
O médico sentou-se de costa para a janela e Melina, de frente para ele, do outro lado da mesa.
- Analisei minhas anotações, seu avanço durante o tratamento e acho que agora é hora de você caminhar com os próprios pés. Coloque em prática toda teoria ensinada, aprendida e discutida durante nossas conversas e viva do seu jeito, seja muito feliz. Foi muito legal te conhecer e desejo melhoras a sua mãe e tudo de bom a você.
Melina sorriu e assim que ele estendeu a mão, ela cumprimentou-o.
- Obrigada por tudo doutor, pode deixar que vou ser uma boa garota, por mais que isso pareça mentira.
Dizendo isso, levantou-se e foi até a porta. Será que, a partir daquele momento o “bicho ia pegar?”


“Pois é, acho que tudo isso era coisa da minha cabeça mesmo. Bom, nada melhor do que zoar um pouco com a cara dos outros para descontrair. (Barulho de botões sendo apertados). ‘Átila, vamos sair? Hoje eu quero fazer loucuras! Beijo.’ É, pelo visto não mudei muito. Esse é meu jeito, esse é o jeito Melina de ser e foda-se quem não gostar. Tchauzinho.”

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