segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A droga mais potente que qualquer outra

Psicose Nova-Iorquina - Capítulo VI

Talvez eu seja facilmente notada, notada por esse jeito não social, apenas sociável. Talvez ser tão “fechada”, tão calada possa me fazer mal. Minha vida está uma droga e sinto que aos poucos vou perdendo uma parte de mim. Primeiro brigo com Átila e agora minha mãe cai doente na cama. Estou sem meu melhor amigo, minha mãe e embora possa contar com Lavínia e Verônica, a vergonha sempre me deixa sozinha. Minha mãe bebe muito e por isso ela acabou desenvolvendo problemas sérios que necessitavam de internação, tratamento e medicamentos. Não temos grandes condições e apesar do quadro ser inicial, não possuimos muito dinheiro ou qualquer outro tipo de recurso para tratá-la. Estava utilizando a lista telefônica e lembrei de um advogado que minha mãe contratou a muito tempo atrás. Contratou só porque deu para ele. Biscate, falo isso porque sei o motivo dela ser tão afastada da minha vida, de sair a maior parte do tempo, de esquecer que me colocou no mundo e agora está ai, morrendo. Ela deveria me agradecer, pois poderia muito bem deixa-la morrer. Realmente ainda resta algo bom em mim. Liguei para o advogado:
- Doutor Daniel Liroff, sou Melina, filha de Rita.
- Rita...?
- Rita Vedova.
- Ah sim, em que posso ajudar?
- Poderia falar com o senhor pessoalmente em seu escritório?
- Posso atende-la as duas e meia.
- Estarei ai. Até breve.
Minha mãe estava no hospital em observação. Ela passou mal e foi levada. Não sabia por quanto tempo ficaria lá ou se seria internada de uma vez por todas. Sai de casa duas horas e passei no restaurante para falar com meu chefe. Liberou-me, mas tive um pequeno desconto no salário. Isso era o menor dos problemas. Cheguei no escritório, um lugar muito bem decorado, simples mas imponente. Um ambiente sério, silencioso. Esse silêncio causava até desconforto, confesso.
- Sente-se.
- Obrigada.
- O que a traz aqui, senhorita Verona?
- Melina, por favor. Bem, minha mãe está com problemas de saúde e como sou menor não posso fazer muito por ela. O médico disse que ela precisa de internação, precisa de medicamentos e tudo isso deveria ser feito por alguém que respondesse, legalmente, por mim. Não tenho ninguém, então estou pedindo ajuda ao senhor.
- Olha, pode demorar para conseguir algo realmente eficaz, mas posso assinar papéis para internação. Dado este primeiro passo, veremos a situação e faremos o que for preciso. Claro que a colocarei a par de tudo, quanto a isso não se preocupe.
- E quanto essa ajuda custará?
- Falaremos disso depois.
- Desde já agradeço.
Apertei a mão dele e sai. Fui para o hospital e o médico confirmou a necessidade da internação. Falei com ele e fui passar um tempo com ela. Quando cheguei no quarto, ela estava deitada em uma maca, pálida. Vê-la naquele estado partia meu coração, embora ela não fosse a mãe que gostaria de ter e nunca seria. Quando foi mãe? Ela estava sedada e eu sentei em uma cadeira, olhando ela, pensando nessa droga de vida. Apoiei meus cotovelos nos braços da cadeira e segurei minha cabeça, de olhos fechados, querendo apenas respirar aquele cheio de hospital e esvaziar minha cabeça, sem pensar em absolutamente nada. Eu escutei a porta abrir e fiquei surpresa com a visita.

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